quarta-feira, 26 de junho de 2013

A prova documental




Entrevista: Bruce M. Metzger, Ph.D.
Escreveu ou editou 50 livros, dentre eles The New Testament: its background, growth, and content [O Novo Testamento: seu cenário, desenvolvimento e conteúdo]; The text of the New Testament [O texto do Novo Testamento]; The canon of the New Testament [O cânon do Novo Testamento]; Manuscripts of the GreekBible [Manuscritos da Bíblia grega]; Textual commentary on the Greek New Testament [Comentário textual sobre o Novo Testamento grego]; Introduction to the apocrypha [Introdução aos apócrifos] e The Oxford companion to the Bible [O guia bíblico Oxford]. Muitos desses livros foram traduzidos para o alemão, chinês, japonês, coreano, malaio e outras línguas. Ele é também co-editor da The new Oxford annotated Bible with the apocrypha [A nova Bíblia Oxford anotada com os apócrifos] e editor geral de mais de 25 volumes da série New Testament tools and studies [O Novo Testamento: ferramentas e estudos].
Metzger é mestre pelo Seminário e pela Universidade de Princeton, onde fez também seu doutorado. É doutor honorário por cinco faculdades e universidades, dentre elas a St. Andrews University, da Escócia, a Universidade de Munster, na Alemanha, e a Potchefstroom, da África do Sul.

Se tudo que temos são cópias de cópias, como ter certeza de que o Novo Testamento que temos hoje é, no mínimo, semelhante aos escritos originais?
Não é só a Bíblia que está nessa situação, outros documentos antigos que chegaram até nós também estão. A vantagem do Novo Testamento, principalmente quando comparado com outros escritos antigos, é que muitas cópias sobreviveram.
Quanto maior o número de cópias em harmonia umas com as outras, sobretudo se provêm de áreas geográficas diferentes, tanto maior a possibilidade de confrontá-las, o que nos permite visualizar como seriam os documentos originais. A única forma possível de harmonizá-los seria pela ascendência de todos eles à mesma árvore genealógica que representaria a descendência dos manuscritos.

E quanto à idade dos documentos? Isso também é importante?
Esse elemento é outro dado que favorece o Novo Testamento. Temos cópias que datam de algumas gerações posteriores ao escrito dos originais, ao passo que, no caso de outros textos antigos, talvez cinco, oito ou dez séculos tenham se passado entre o original e as cópias mais antigas que sobreviveram. Além dos manuscritos gregos, temos também a tradução dos evangelhos para outras línguas numa época relativamente antiga: para o latim, o siríaco e o copta. Além disso, temos o que podemos chamar de traduções secundárias feitas pouco depois, como a armênia e a gótica. Há várias outras além dessas: a georgiana, a etíope e uma grande variedade.
Mesmo que não tivéssemos nenhum manuscrito grego hoje, se juntássemos as informações fornecidas por essas traduções que remontam a um período muito antigo, seria possível reproduzir o conteúdo do Novo Testamento. Além disso, mesmo que perdêssemos todos os manuscritos gregos e as traduções mais antigas, ainda seria possível reproduzir o conteúdo do Novo Testamento com base na multiplicidade de citações e comentários, sermões, cartas etc. dos antigos pais da igreja.

De que modo a multiplicidade de manuscritos contrasta com outros livros antigos normalmente reputados pelos eruditos por confiáveis?
Veja o caso de Tácito, o historiador romano que escreveu os Anais por volta de 116 d.C. Seus primeiros seis livros existem hoje em apenas um manuscrito, copiado mais ou menos em 850 d.C. Os livros 11 a 16 estão em outro manuscrito do século xi. Os livros 7 a 10 estão perdidos. Portanto, há um intervalo muito longo entre o tempo em que Tácito colheu suas informações e as escreveu e as únicas cópias existentes. Com relação a Josefo, historiador do século I, temos nove manuscritos gregos de sua obra Guerra dos judeus, todos eles cópias feitas nos séculos X a XII. Existe uma tradução latina do século IV e textos russos dos séculos XI ou XII.
Há, hoje, mais de 5 mil manuscritos do Novo Testamento grego catalogados.
O volume de material do Novo Testamento é quase constrangedor em relação a outras obras da Antiguidade. O que mais se aproxima é a Ilíada de Homero, que era a bíblia dos antigos gregos. Há menos de 650 manuscritos hoje em dia. Alguns são muito fragmentários. Eles chegaram a nós a partir dos séculos II e III d.C. Se levarmos em conta que Homero redigiu seu épico em aproximadamente 800 a.C, veremos que o intervalo é bastante longo.
Os mais antigos manuscritos do Novo Testamento são fragmentos de papiros, que era um tipo de material para escrita feito da planta do papiro que crescia às margens do delta do Nilo, no Egito. Existem atualmente 99 fragmentos de papiros com uma ou mais passagens ou livros do Novo Testamento. Os mais importantes já descobertos são os papiros Chester Beatty, achados por volta de 1930. Destes, o número 1 apresenta partes dos quatro evangelhos e do livro de Atos, datando do século III d.C. O papiro número 2 contém grandes porções de oito cartas de Paulo além de trechos de Hebreus, e a data gira em torno de 200 d.C. O papiro número 3 compreende uma seção enorme do livro de Apocalipse, com data do século III d.C. Um outro grupo de manuscritos de papiros importantes foi comprado por um bibliófilo suíço, Martin Bodmer. O mais antigo deles, de aproximadamente 200 d.C, contém cerca de dois terços do evangelho de João. Um outro papiro, com partes dos evangelhos de Lucas e João, é do século III d.C.

Qual é a parte mais antiga que temos hoje?
Um fragmento do evangelho de João com parte do capítulo 18. Tem cinco versículos, três de um lado, dois de outro e mede cerca de 6,5 por nove centímetros.
Foi comprado no Egito em 1920, mas passou despercebido durante anos em meio a outros fragmentos de papiros semelhantes. Em 1934, porém, C. H. Roberts, do Saint Johris College, de Oxford, trabalhava na classificação de papiros na Biblioteca John Rylands, em Manchester, na Inglaterra, quando percebeu imediatamente que havia deparado com um papiro em que se achava preservado um trecho do evangelho de João. Pelo estilo da escrita, ele foi capaz de datá-lo.
Ele concluiu que o manuscrito era de cerca de 100 a 150 d.C. Muitos outros paleógrafos famosos, como sir Frederic Kenyon, sir Harold Bell, Adolf Deissmann, W. H. P. Hatch, Ulrich Wilcken e outros, concordam com sua avaliação. Deissmann estava convencido de que o manuscrito remontava pelo menos ao reinado do imperador Adriano, nos anos 117 a 138 d.C, ou até mesmo ao do imperador Trajano, entre os anos 98 e 117 d.C.
Temos aqui um fragmento muito antigo do evangelho de João proveniente de uma comunidade das margens do rio Nilo, no Egito, muito distante de Éfeso, na Ásia Menor, onde o evangelho provavelmente foi escrito.
Temos os chamados manuscritos unciais, escritos inteiramente em letras gregas maiúsculas. Temos hoje 306 exemplares, muitos dos quais remontam ao início do século III. Os mais importantes são o Códice sinaítico, que é o único com o Novo Testamento completo em letras unciais, e o Códice Vaticano, bastante incompleto. Ambos são de cerca de 350 d.C. Um novo estilo de escritura, de natureza mais cursiva, emergiu por volta de 800 d.C. É chamado de minúscula, e há cerca de 2 856 manuscritos desse tipo. Há também os lecionários, que contêm as Escrituras do Novo Testamento na seqüência de leitura prescrita pela igreja primitiva em determinadas épocas do ano. Um total de 2.403 desses manuscritos já foram catalogados. Com isso, o total geral de manuscritos gregos chega a 5.664.
Além dos documentos gregos existem milhares de outros manuscritos antigos do Novo Testamento em outras línguas. Existem entre 8 e 10 mil manuscritos da Vulgata latina, mais um total de 8 mil em etíope, eslavo antigo e armênio. No total, há cerca de 24 mil manuscritos.

No que se refere à multiplicidade de manuscritos e ao intervalo de tempo entre os originais e nossos primeiros exemplares, qual a situação do Novo Testamento perante outras obras bem conhecidas da Antiguidade?
Podemos confiar imensamente na fidelidade do material que chegou até nós, principalmente se o compararmos a qualquer outra obra literária antiga.
Essa conclusão é compartilhada por estudiosos eminentes de todo o mundo. De acordo com o falecido F. F. Bruce, autor de Merece confiança o Novo Testamento?, "no mundo não há qualquer corpo de literatura antiga que, à semelhança do Novo Testamento, desfrute uma tão grande riqueza de confirmação textual".
Segundo o sir Frederic Kenyon, ex-diretor do Museu Britânico e autor de The paleography of Greek papyrí [A paleografia dos papiros gregos], "em nenhum outro caso o intervalo de tempo entre a composição do livro e a data dos manuscritos mais antigos são tão próximos como no caso do Novo Testamento".
Não resta agora mais nenhuma dúvida de que as Escrituras chegaram até nós praticamente com o mesmo conteúdo dos escritos originais".

É provável que existam milhares de variações nos manuscritos antigos que possuímos?
Isso não significa que não podemos confiar neles. Em primeiro lugar, os óculos só foram inventados em 1373, em Veneza. Tenho certeza de que muitos dos antigos escribas sofriam de astigmatismo. Acrescente-se a isso a dificuldade que era, independentemente das circunstâncias, ler manuscritos já apagados, cuja tinta havia perdido a nitidez. Havia também outros perigos — falta de atenção da parte dos escribas, por exemplo. Portanto, embora a maior parte dos escribas fosse escrupulosamente cuidadosa, alguns erros acabavam passando.
Mas há outros fatos que compensam isso. Por exemplo, às vezes a memória do escriba pregava-lhe peças. Entre olhar o que tinha de copiar e, em seguida, escrever o que lera, ele podia acabar mudando a ordem das palavras. Ele escrevia exatamente as palavras que lera, porém na sequência errada. Isso não deve ser motivo para se alarme, já que o grego, ao contrário de outras línguas, como o inglês ou o português, é uma língua que admite flexões.
Faz uma enorme diferença em português se você disser: "O cachorro morde o homem" ou: "O homem morde o cachorro". A ordem das palavras é importante em português, mas não no grego. Uma palavra pode funcionar como sujeito da oração independentemente de onde esteja colocada. Consequentemente, o significado da oração não fica truncado se as palavras não estiverem na ordem que consideramos correta. Existe, portanto, uma certa variação entre um manuscrito e outro, mas, em geral, são variações de somenos importância. As diferenças de grafia seriam um outro exemplo.
O número parece grande, mas engana um pouco pelo modo como as variações são computadas. Se uma única palavra for escrita incorretamente em 2 mil manuscritos, contabilizam-se 2 mil variações.

Quantas doutrinas da igreja estão em risco por causa das variações?
Não sei de nenhuma doutrina que esteja em risco. Os testemunhas-de-jeová batem à sua porta e lhe dizem: "Sua Bíblia está errada em 1João 5.7,8, onde se lê: 'o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um' (nvi, nota de rodapé). Eles dirão que não é assim que esse texto aparece nos manuscritos mais antigos. E é verdade mesmo. Acho que essas palavras só aparecem em cerca de sete ou oito cópias, todas dos séculos XV ou XVI. Admito que esse texto não faz parte do que o autor de 1João foi inspirado a escrever. Isso, porém, não invalida o testemunho sólido da Bíblia acerca da Trindade. No batismo de Jesus, o Pai fala, seu Filho amado é batizado e o Espírito Santo desce sobre ele. No final de 2Coríntios, Paulo diz: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês". A Trindade aparece representada em muitos lugares.
Os estudiosos trabalham muito cuidadosamente para tentar solucioná-las, devolvendo-lhes o significado original. As variações mais significativas não solapam nenhuma doutrina da igreja. Qualquer Bíblia que se preza vem com notas que indicam as variações de texto mais importantes. Mas, como eu já disse, esses casos são raros.
São tão raros que estudiosos como Norman Geisler e William Nix chegaram à seguinte conclusão: "... o Novo Testamento não só sobreviveu em um número maior de manuscrito, mais que qualquer outro livro da Antiguidade, mas sobreviveu em forma muito mais pura (99,5% de pureza) que qualquer outra obra grandiosa, sagrada ou não".
           
Como foi que os primeiros líderes da igreja determinaram quais livros seriam autorizados e quais deveriam ser excluídos? Que critérios foram utilizados para saber que documentos deveriam ser incluídos no Novo Testamento?
A igreja primitiva tinha basicamente três critérios. Em primeiro lugar, os livros tinham de ter autoridade apostólica, quer dizer, tinham de ter sido escritos ou pelos próprios apóstolos, que foram testemunhas oculares acerca do que escreveram, ou por seus seguidores. Portanto, no caso de Marcos e Lucas, embora não pertencessem ao grupo dos 12, diz uma antiga tradição que Marcos foi ajudante de Pedro, e Lucas, companheiro de Paulo.
Em segundo lugar, havia o critério de conformidade com o que era conhecido como regra de fé. Isto é, o documento estava em harmonia com a tradição cristã básica que a igreja reconhecia normativa. E, em terceiro lugar, procurava-se estabelecer se um documento em especial gozara de aceitação e uso contínuos por toda a igreja.
Não seria muito correto dizer que esses critérios eram simplesmente aplicados de modo automático. É claro que havia diferentes opiniões sobre quais critérios deveriam pesar mais. O que chama mais a atenção, porém, é que, apesar de a periferia do cânon ter permanecido instável durante algum tempo, havia um alto grau de unanimidade no tocante à maior parte do Novo Testamento durante os dois primeiros séculos. Foi o que aconteceu em diversas congregações espalhadas em uma área muito ampla.

Então os quatro evangelhos que temos no Novo Testamento pautaram-se por esses critérios, ao passo que os outros não?
Sim. Foi, se é que se pode falar assim, como se fosse uma espécie de "sobrevivência do mais apto". Quando se referia ao cânon, Arthur Darby Nock costumava dizer aos seus alunos em Harvard: "As estradas de maior trânsito da Europa são as melhores; por isso o trânsito é tão intenso". É uma boa analogia. O comentarista britânico William Barclay formulou o pensamento da seguinte maneira: 'A verdade pura e simples é que os livros do Novo Testamento entraram para o cânon porque não havia como impedi-los de entrar". Podemos estar certos de que nenhum outro livro antigo pode se comparar ao Novo Testamento em termos de importância para a história ou a doutrina cristãs. Quando estudamos a história primitiva do cânon, saímos convencidos de que é no Novo Testamento que encontramos as fontes mais fidedignas para a história de Jesus. Os que fixaram os limites do cânon tinham uma perspectiva clara e equilibrada do evangelho de Cristo. Leia os outros documentos e veja por si mesmo. Eles foram escritos depois dos quatro evangelhos, nos séculos II a VI, muito tempo depois de Jesus, e, em geral, são muito banais. Seus nomes, como o Evangelho de Pedro e o de Maria, não correspondem aos autores verdadeiros. Por outro lado, os quatro evangelhos do Novo Testamento foram prontamente aceitos com notável unanimidade como portadores de conteúdo autêntico.

O Evangelho de Tome, encontrado em meio aos documentos de Nag Hammadi, descobertos no Egito em 1945, alega conter "as sentenças ocultas que o Jesus vivo pronunciou e Judas Tome, o Gêmeo, registrou". Por que esse evangelho não foi aceito pela igreja?
O Evangelho de Tome veio à luz no século V, em uma cópia em copta, que eu traduzi para o inglês. Contém 114 sentenças atribuídas a Jesus, mas nenhuma narrativa do que Jesus fez. Parece ter sido escrito em grego, na Síria, por volta de 140 d.C. Em alguns casos, creio que esse evangelho relata corretamente as palavras de Jesus, com pequenas modificações.
Por exemplo, no evangelho de Tome (sent. 32), Jesus diz: "Uma cidade construída sobre alta montanha e fortificada não pode cair, nem pode estar oculta". Aqui, foi acrescentado o adjetivo "alto," mas o restante está em conformidade com o evangelho de Mateus. Ou quando Jesus diz: "Dêem a César as coisas que são de César e dêem a Deus as coisas que são de Deus, e me dêem o que é meu". Nesse caso, a última frase foi acrescentada. Todavia, existem coisas em Tome que são totalmente estranhas aos evangelhos canônicos. Jesus diz: "Cortem a madeira, ali estou. Ergam uma pedra, e me acharão ali". Isso é panteísmo, a idéia segundo a qual Jesus é coextensivo à substância deste mundo. Isso se opõe a tudo o que encontramos nos evangelhos canônicos. O evangelho de Tome termina com uma nota onde se lê: "Simão Pedro disse a eles: 'Maria deveria deixar-nos, pois as mulheres não são dignas da vida'. Jesus disse: 'Eu a guiarei para fazer dela homem, de modo que também ela possa tornar-se um espírito vivo semelhante a vocês homens. Pois toda mulher que se tornar homem entrará no reino do céu". Ora, esse não é o Jesus que conhecemos dos quatro evangelhos canônicos — concluiu enfaticamente.

E quanto à acusação de que Tomé teria sido excluído propositadamente dos concílios da igreja por algum tipo de conspiração para silenciá-lo?
Não há base histórica para isso. O que os sínodos e concílios fizeram no século V e nos seguintes foi ratificar o que já tinha sido acatado pelos cristãos em toda parte. Não é certo dizer que o Evangelho de Tome teria sido excluído por algum decreto do concilio. O certo é que o Evangelho de Tome excluiu a si mesmo! Ele não estava de acordo com os outros testemunhos sobre Jesus que os cristãos primitivos consideravam dignos de confiança.
Creio que a igreja primitiva agiu de modo sensato ao descartá-lo. Aceitá-lo agora, parece-me, seria aceitar algo de valor inferior aos outros evangelhos. Mas não me entenda mal. Acho que o Evangelho de Tome é um documento interessante, embora contenha idéias panteístas e preconceituosas que sem dúvida o tornam indigno da companhia dos demais. É preciso entender que o cânon não resultou de uma série de disputas envolvendo políticas da igreja. O cânon, na verdade, é uma separação decorrente da visão intuitiva dos cristãos. Eles ouviam a voz do Bom Pastor no evangelho de João; mas, em Tome, ela soava obscura e distorcida em meio a uma porção de outras coisas. Quando o cânon foi oficialmente fixado, ele simplesmente ratificou o que a percepção generalizada da igreja já havia determinado. Como se vê, o cânon é uma lista de livros autorizados mais do que uma lista autorizada de livros. Esses documentos não têm autoridade pelo fato de terem sido escolhidos; cada um deles já tinha autoridade antes de serem postos todos juntos. A igreja primitiva simplesmente foi sensível e percebeu que os relatos tinham autoridade. Se alguém disser que o cânon foi fixado só depois que os concílios e as igrejas fizeram seu pronunciamento, é como se dissesse: "Vamos pedir a várias academias de músicos para que digam que a música de Bach e Beethoven é maravilhosa". Eu diria: "Obrigado por nada! Sabíamos disso antes mesmo que o pronunciamento fosse feito". Sabemos disso porque temos a percepção do que é boa música e do que não é. O mesmo vale para o cânon.

Alguns livros do Novo Testamento, principalmente Tiago, Hebreus e Apocalipse, demoraram mais para ser aceitos do que os demais. Isso seria motivo para que suspeitássemos deles?
Na minha opinião, isso demonstra apenas como a igreja primitiva era cautelosa. Eles não se deixavam fascinar por qualquer documento novo com alguma referência sobre Jesus. Isso é prova de deliberação e de análise cuidadosa. E claro que, ainda hoje, setores da igreja síria recusam-se a aceitar o livro de Apocalipse, mas os fiéis daquela igreja são cristãos. Para mim, o livro de Apocalipse é uma parte maravilhosa das Escrituras. Acho que eles ficam mais pobres com essa recusa.

Todos esse anos de estudos, de erudição, escrevendo livros e se aprofundando nas minúcias do texto do Novo Testamento: que efeito teve tudo isso sobre sua fé pessoal?
Fico feliz por ter a oportunidade de falar sobre o assunto. Quando vejo a coerência de todo esse material que chegou até nós em uma multiplicidade de cópias, algumas delas antiquíssimas, a base de minha fé pessoal só pode crescer.
Sempre me questionei, aprofundei-me nos textos, estudei-os do começo ao fim, e hoje digo com certeza que minha fé em Jesus repousa sobre uma base muito sólida. Muito sólida.
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