quinta-feira, 31 de maio de 2012

Existem apóstolos nos dias de hoje?

por Renato Vargens

Existem apóstolos nos dias de hoje? Segundo a Bíblia, quais deveriam ser as credenciais de um apóstolo?

1. O apóstolo teria que ser testemunha do Senhor ressurreto.
Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo conversando sobre quem substituiria a Judas. No capítulo 1.21-22 lemos: “É necessário pois, que, dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição”. Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura livre? Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?” (1Co 9.1).

2. O apóstolo tinha de ter um chamado especial da parte de Cristo para exercer este ministério.
Temos de entender bem o significado de "chamado por Cristo". por causa do contexto em que vivemos, há muita confusão na Igreja de hoje.
Jesus chamou os 12 discípulos (Mt 10) e “...deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda enfermidade e todo mal”. No v.1, Mateus os chama de discípulos e no versículo 2 muda para apóstolos. Por que isso? Porque nem todo discípulo era apóstolo. Só alguns discípulos tornaram-se apóstolos.
Provamos isso ao ler Lucas 6.12-13. “...chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quias deu também o nome de apóstolos”. Somente doze dos discípulos foram nomeados e escolhidos, e posteriormente, Paulo, a caminho de Damasco (At 9).
Os doze apóstolos foram selecionados inicialmente e enviados numa missão especifica pelo Senhor. Judas caiu porque pecou e por isso foi excluído (Atos 1.20,25); como resultado, Matias foi escolhido para ficar no seu lugar (Atos 1.16-26). Note atentamente que uma das qualificações que Matias tinha que cumprir, para poder ser selecionado, era ter visto o Senhor ressuscitado (Atos 1.22). Mais tarde, Paulo foi selecionado de uma maneira especial para ser o apóstolo enviado para os gentios (Atos 9.15; 22.14-15; 26.16-18; Gálatas 1.15-17; 1Timóteo 2.7). Esta é a razão porque o Senhor lhe apareceu, uma vez que ele não teria as qualificações para ser um apóstolo, se não tivesse visto o Senhor depois de sua ressurreição (note 1 Coríntios 9.1-2; 15.8; Atos 22.15; 26.16).

3. O apóstolo era alguém a quem foi dada autoridade para operar milagres. Isso fica bem claro em 2Co 12.12 - “Pois as credenciais do meu apostolado foram manifestados no meio de vós com toda a persistência, por sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse: “Como vocês podem questionar meu ofício de apóstolo se as minhas credenciais foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e prodígios maravilhosos.

4. O apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando as pessoas na verdade.
Os apóstolos de hoje e os seus ensinamentos não podem sobrepor-se, nem ao menos equiparar-se, à doutrina dos apóstolos (At 2.42,43).

5. Os apóstolos tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas. Nomeavam os presbíteros, decidiam questões disciplinares e questões doutrinárias, e falavam com autoridade do próprio Jesus: “... mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”(Jo 14.26).

A luz destas afirmações para, pense e responda sinceramente: Será que diante destas prerrogativas os famosos apóstolos brasileiros podem de fato reivindicar o título de apóstolo de Cristo?

Por acaso algum deles viu o Senhor ressurreto? Foram eles comissionados por Cristo a exercerem o ministério apostólico? Quantos dos apóstolos brasileiros ressuscitaram mortos? E suas doutrinas? Possuem elas autoridade para se contraporem aos ensinamentos bíblicos?

Pois é, infelizmente os "apóstolos" tupiniquins não possuem respostas a estas perguntas, o que corrobora com o posicionamento da ortodoxia evangélica que acredita que o ministério apostólico cessou com a morte dos apóstolos no primeiro século. Sem a menor sombra de dúvidas considero a utilização do título "apóstolo" por parte dos pastores brasileiros como uma apropriação indevida de um ministério que não existe mais.

Algumas doutrinas heréticas dos apóstolos modernos:
A instituição dos "atos proféticos".
A ressurreição do maniqueísmo.
A instituição de novas unções.
O aparecimento de novas doutrinas espirituais relacionadas a batalha espiritual.
O surgimento de novas e inéditas revelações.
A consolidação da teologia do medo (ungido do Senhor).
A instituição da doutrina da cobertura espiritual.
A corenelização da fé.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Apóstolo" milagreiro procura hospital para curar seu joelho


O líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, Apóstolo Valdemiro Santiago é um dos líderes neopentecostais que ficou conhecido por promover cura de pessoas com doenças graves como AIDS e Câncer. Em suas campanhas, oferece itens que supostamente fazem milagres, como as toalhinhas “Sê tu uma benção”, vendidas nos cultos da denominação.
Apesar de o fato ter ocorrido no final de 2011, houve pouca divulgação midiática. O famoso líder da Igreja Mundial, apesar de propagar milagres em seus templos, preferiu procurar os médicos para fazer uma cirurgia e curar um problema no joelho. No dia 21, Valdemiro apostou na medicina tradicional, sendo operado no Hospital Albert Einstein, uma das melhores unidades privadas do país, segundo informações do jornal “O Globo” de 4 de dezembro de 2011.
Em uma entrevista à Folha de São Paulo, publicada em 15 de abril de 2012, Valdemiro menciona o ocorrido, de forma superficial:
O Globo: Quais são as doenças que estão nas mãos de Deus e quais na da ciência? No ano passado você passou por um tratamento do joelho no hospital Albert Einstein...
Valdemiro: Na verdade todas as doenças estão nas mãos de Deus. O sacerdote é um instrumento nas mãos de Deus.
O Globo: Você é um instrumento nas mãos de Deus?
Valdemiro: Tenho plena certeza disso. Só que os médicos também são. Deus é quem dá o conhecimento, Deus instituiu os médicos. Deus nos colocou essa autoridade para que pudéssemos suprir as pessoas, honrando cada um.
Não é na Mundial onde há inscrições estampadas em todos os seus templos com os dizeres: “A mão de Deus está aqui”, onde o apóstolo chama todos a serem curados mesmo que não tenham fé, pois a sua fé é suficiente para promover a cura dos outros. Não é lá onde toalhas embebidas com o seu suor são distribuídas para cura de doenças? Onde sua gravata é disputada por doentes? Onde toalhinhas “Sê tu uma bênção” são distribuídas para promoção de curas a distância? Onde frases como “essa obra não pode parar”, “essa obra é importante” são bradadas a todo instante. Até parece que Deus foi dar plantão no hospital Albert Einstein naquele dia (é um hospital israelita)... Depois disso muitos trocaram o Carnê da Multiplicação por um plano de saúde...
Vale sempre lembrar a experiência e as frases do apóstolo Paulo (na verdade, o último dos apóstolos, os demais, no máximo, são missionários), que fez questão de tornar público sua situação, ao contrário dos líderes “prósperos” e “supercrentes” que escondem, a todo custo suas enfermidades, para não aparentar “falta de fé”:

E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte (2Co 12.7-10).

Apesar da capacidade dada por Deus ao apóstolo Paulo para curar outros (At 28.9), aparentemente ele não pôde curar, mais tarde, Epafrodito (Fp 2.25ss) nem Trófimo (2Tm 4.20).
Paulo curou os enfermos e até mesmo fez um morto reviver (At 20.9-10). Em certa ocasião ele curou a todos de uma cidade inteira (At 28.9). Mas, segundo Filipenses 2.25-27, ele não pôde curar nem mesmo um cooperador seu, que era necessário para a obra e esteve quase à morte. Curado, pela piedade de Deus sobre Epafrodito e sobre o próprio Paulo.
O dom de curar não garantia o poder de sempre curar quem quer que seja. Em certa ocasião os discípulos não puderam curar um jovem endemoninhado (Mt 17.16).
Isso tudo se tornou público mundialmente (sem querer fazer trocadilhos) através da Bíblia Sagrada, e escritas pelos próprios apóstolos e discípulos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Depois da teologia da prosperidade, os ditados populares não são mais os mesmos…

por André Sanchez

Como seriam os ditados populares sob a ótica da teologia da prosperidade?

A teologia da prosperidade, além de revolucionar [para pior] o meio cristão, também veio para revolucionar o mundo dos ditados populares. Vejam os novos ditados baseados nessa teologia:

Diga-me quanto é a tua oferta e te direi quem és.
Quando a oferta é demais o apóstolo [não] desconfia.
Em terra em que não se estuda a Bíblia, quem tem uma revelação é rei.
Oferta pouca é bobagem.
É melhor um fiel ignorante na mão, do que dois voando [para uma igreja séria].
Quem oferta sempre alcança.
Contra ofertas (polpudas) não há argumentos.
De jatinho apostólico se vai longe.
Campanha da prosperidade não faz mal a ninguém.
Dinheiro é o que traz felicidade.
Quem semeia ofertas não colhe adversidades.
De grão em grão o apóstolo enche o jato.
Ofertar hoje, para receber a bênção amanhã.
Doutrina da minha igreja não se discute.
Saco de oferta vazio não pára em pé.
Não dê pérolas aos porcos, dê aos apóstolos.
Quem oferta o que quer, ouve o que não quer.
Não há nada como uma reunião da prosperidade após a outra. [o cofre fica cheio!]
Quem entra na igreja é para ofertar.
Não deixe para amanhã a oferta que você pode dar hoje. [vai que amanhã você não vem!]
Para quem quer a “bença”, meia revelação basta.
Determinar não ofende.
Quem dá para a igreja oferta a Deus.
Ofertem pouco, ofertem muito, mas ofertem pra mim
A pregação é prata. A oferta é ouro.
Quem oferta quer ganhar. [algo de volta de Deus]
O pior crente é aquele que não quer ofertar.
Se você conhece mais algum ditado da teologia da prosperidade escreva nos comentários!

Arqueólogos encontram primeira prova da existência da Belém bíblica

Arqueólogos israelenses acharam em Jerusalém um selo de argila com a inscrição "Bat Lechem", que supõe a primeira evidência arqueológica da existência de Belém durante o período em que aparece descrito na Bíblia, informou nesta quarta-feira a Autoridade de Antiguidades de Israel.

Trata-se de uma espécie de esfera de argila que se usava para carimbar documentos e objetos, que foi encontrado nas polêmicas escavações do "Projeto Cidade de David", situado no povoado palestino de Silwán, no território ocupado de Jerusalém Oriental.

Datada entre os séculos VII e VIII a.C, a peça é meio milênio posterior às Cartas de Amarna, uma correspondência diplomática em língua acádia sobre tabuletas de argila entre a Administração do Egito faraônico e os grandes reinos da época e seus vassalos na zona.

O descobrimento anunciado nesta quarta remete a uma época posterior, a do Primeiro Templo Judeu (1006 - 586 a.C.), citada no Antigo Testamento como parte do reino da Judéia.

"É a primeira vez que o nome de Belém aparece fora da Bíblia em uma inscrição do período do Primeiro Templo, o que prova que Belém era uma cidade no reino da Judéia e possivelmente também em períodos anteriores", assinalou o responsável das escavações, Eli Shukron, em comunicado. "A peça é do grupo dos 'fiscais', ou seja, uma espécie de selo administrativo que era usado para carimbar cargas de impostos que se enviavam ao sistema fiscal do reino da Judéia no final dos séculos VII e VIII a.C", acrescenta a especialista.

Fonte: Terra

domingo, 20 de maio de 2012

Deus, Prosperidade e Trabalho, por Augustus Nicodemus


A prosperidade financeira obedece a normas, regras e métodos estabelecidos. Por outro lado, da perspectiva bíblica, a prosperidade é um dom de Deus. É ele quem concede saúde, oportunidades, inteligência, e tudo o mais que é necessário para o sucesso financeiro. E isso, sem distinção de pessoas quanto ao que crêem e quanto ao que contribuem financeiramente para as comunidades às quais pertencem. Deus faz com que a chuva caia e o sol nasça para todos, justos e injustos, crentes e descrentes, conforme Jesus ensinou (Mateus 5:45). Não é possível, de acordo com a tradição reformada, estabelecer uma relação constante de causa e efeito entre contribuições, pagamento de dízimos e ofertas e mesmo a religiosidade, com a prosperidade financeira. Várias passagens da Bíblia ensinam os crentes a não terem inveja dos ímpios que prosperam, pois cedo ou tarde haverão de ser punidos por suas impiedades, aqui ou no mundo vindouro.


Através dos séculos, as religiões vêm pregando que existe uma relação entre Deus e a prosperidade material das pessoas. No Antigo Oriente, as religiões consideradas pagãs estabeleceram milênios atrás um sistema de culto às suas divindades que se baseava nos ciclos das estações do ano, na busca do favor dessas divindades mediante sacrifícios de vários tipos e na manifestação da aceitação divina mediante as chuvas e as vitórias nas guerras. A prosperidade da nação e dos indivíduos era vista como favor dos deuses, favor esse que era obtido por meio dos sacrifícios, inclusive humanos, como os oferecidos ao deus Moloque. No Egito antigo a divindade e poder de Faraó eram mensurados pelas cheias do Nilo. As religiões gregas, da mesma forma, associavam a prosperidade material ao favor dos deuses, embora estes fossem caprichosos e imprevisíveis. As oferendas e sacrifícios lhes eram oferecidas em templos espalhados pelas principais cidades espalhadas pela bacia do Mediterrâneo, onde também haviam templos erigidos ao imperador romano, cultuado como deus.


A religião dos judeus no período antes de Cristo, baseada no Antigo Testamento, também incluía essa relação entre a ação divina e a prosperidade de Israel. Tal relação era entendida como um dos termos da aliança entre Deus e Abraão e sua descendência. Na aliança, Deus prometia, entre outras coisas, abençoar a nação e seus indivíduos com colheitas abundantes, ausência de pragas, chuvas no tempo certo, saúde e vitória contra os inimigos. Essas coisas eram vistas como alguns dos sinais e evidências do favor de Deus e como testes da dependência dele. Todavia, elas eram condicionadas à obediência e só viriam caso Israel andasse nos seus mandamentos, preceitos, leis e estatutos. Estes incluíam a entrega de sacrifícios de animais e ofertas de vários tipos, a fidelidade exclusiva a Deus como único Deus verdadeiro, uma vida moral de acordo com os padrões revelados e a prática do amor ao próximo. A falha em cumprir com os termos da aliança acarretava a suspensão dessas bênçãos. Contudo, a inclusão na aliança, o favor de Deus e a concessão das bênçãos não eram vistos como meritórios, mas como favor gracioso de Deus que soberanamente havia escolhido Israel como seu povo especial.


O Cristianismo, mesmo se entendendo como a extensão dessa aliança de Deus com Abraão, o pai da fé, deu outro enfoque ao papel da prosperidade na relação com Deus. Para os primeiros cristãos, a evidência do favor de Deus não eram necessariamente as bênçãos materiais, mas a capacidade de crer em Jesus de Nazaré como o Cristo, a mudança do coração e da vida, a certeza de que haviam sido perdoados de seus pecados, o privilégio de participar da Igreja e, acima de tudo, o dom do Espírito Santo, enviado pelo próprio Deus ao coração dos que criam. A exultação com as realidades espirituais da nova era que raiou com a vinda de Cristo e a esperança apocalíptica do mundo vindouro fizeram recuar para os bastidores o foco na felicidade terrena temporal, trazida pelas riquezas e pela prosperidade, até porque o próprio Jesus era pobre, bem como os seus apóstolos e os primeiros cristãos, constituídos na maior parte de órfãos, viúvas, soldados, diaristas, pequenos comerciantes e lavradores. Havia exceções, mas poucas. Os primeiros cristãos, seguindo o ensino de Jesus, se viam como peregrinos e forasteiros nesse mundo. O foco era nos tesouros do céu.


A Idade Média viu a cristandade passar por uma mudança nesse ponto (e em muitos outros). A pobreza quase virou sacramento, ao se tornar um dos votos dos monges, apesar de Jesus Cristo e os apóstolos terem condenado o apego às riquezas e não as riquezas em si. Ao mesmo tempo, e de maneira contraditória, a Igreja medieval passou a vender por dinheiro as indulgências, os famosos perdões emitidos pelo papa (como aqueles que fizeram voto de pobreza poderiam comprá-los?). Aquilo que Jesus e os apóstolos disseram que era um favor imerecido de Deus, fruto de sua graça, virou objeto de compra. Milhares de pessoas compraram as indulgências, pensando garantir para si e para familiares mortos o perdão de Deus para pecados passados, presentes e futuros.


A Reforma protestante, nascida em reação à venda das indulgências, entre outras razões, reafirmou o ensino bíblico de que o homem nada tem e nada pode fazer para obter o favor de Deus. Ele soberana e graciosamente o concede ao pecador arrependido que crê em Jesus Cristo, e nele somente. A justificação do pecador é pela fé, sem obras de justiça, afirmaram Lutero, Calvino, Zwinglio e todos os demais líderes da Reforma. Diante disso, resgatou-se o conceito de que o favor de Deus não se pode mensurar pelas dádivas terrenas, mas sim pelo dom do Espírito e pela fé salvadora, que eram dados somente aos eleitos de Deus. O trabalho, através do qual vem a prosperidade, passou a ser visto, particularmente nas obras de Calvino, como tendo caráter religioso. Acabou-se a separação entre o sagrado e o profano que subjaz ao conceito de que Deus abençoa materialmente quem lhe agrada espiritualmente. O calvinismo é, precisamente, a primeira ética cristã que deu ao trabalho um caráter religioso. Mais tarde, esse conceito foi mal compreendido por Max Weber, que traçou sua origem à doutrina da predestinação como entendida pelos puritanos do século XVIII. Weber defendeu que os calvinistas viam a prosperidade como prova da predestinação, de onde extraiu a famosa tese que o calvinismo é o pai do capitalismo. As conclusões de Weber têm sido habilmente contestadas por estudiosos capazes, que gostariam que Weber tivesse estudado as obras de Calvino e não somente os escritos dos puritanos do séc. XVIII.



Atualmente, em nosso país, a idéia de que Deus sempre abençoa materialmente aqueles que lhe agradam vem sendo levada adiante com vigor, não pelos calvinistas e reformados em geral, mas pelas igrejas evangélicas chamadas de neopentecostais, uma segunda geração do movimento pentecostal que chegou ao Brasil na década de 1900. A mensagem dos pastores, bispos e “apóstolos” desse movimento é que a prosperidade financeira e a saúde são a vontade de Deus para todo aquele que for fiel e dedicado à Igreja e que sacrificar-se para dar dízimos e ofertas. Correspondentemente, os que são infiéis nos dízimos e ofertas são amaldiçoados com quebra financeira, doenças, problemas e tormentos da parte de demônios. Na tentativa de obter esses dízimos e ofertas, os profetas da prosperidade promovem campanhas de arrecadação alimentadas por versículos bíblicos freqüentemente deslocados de seu contexto histórico e literário, prometendo prosperidade financeira aos dizimistas e ameaçando com os castigos divinos os que pouco ou nada contribuem.


O crescimento vertiginoso de igrejas neopentecostais que pregam a prosperidade só pode ser explicado pela idéia equivocada que o favor de Deus se mede e se compra pelo dinheiro, pelo gosto que os evangélicos no Brasil ainda têm por bispos e apóstolos, pela idéia nunca totalmente erradicada que pastores são mediadores entre Deus e os homens e pelo misticismo supersticioso da alma brasileira no apego a objetos considerados sagrados que podem abençoar as pessoas. Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais de usar no culto a Deus objetos ungidos e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos, imersas em práticas supersticiosas e procurando obter prosperidade material por meio de pagamento de dízimos e ofertas me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro e sua teologia da prosperidade não são, na verdade, filhos da Igreja medieval, uma forma de neo-catolicismo tardio que surge e cresce em nosso país onde até os evangélicos têm alma medieval.


5 maneiras de saber se você é realmente um cristão


Jonathan Edwards procurou promover uma vibrante fé cristã ensinando as pessoas quais são as verdadeiras “marcas,” ou sinais da vida piedosa. Ele o fez não somente porque era muito esperto e gostava de categorizar as coisas, mas porque ele queria que os cristãos experimentassem a alegria do verdadeiro Cristianismo e então espalhassem aquela alegria para os outros. 

1. Você ama a Jesus
Em seu texto de 1741 “Marcas Características de uma Verdadeira Obra do Espírito de Deus” (Distinguishing Marks of a True Work of the Spirit of God), Edwards listou um número de sinais negativos e positivos que diferenciavam uma verdadeira obra de Deus de uma falsa. Apesar de no texto Edwards ter-se concentrado em avivamentos de um modo geral, suas palavras se aplicam a indivíduos buscando discernir se conhecem ao Senhor ou não.
O primeiro destes sinais era uma “alta estima” por Jesus Cristo. O ponto deste primeiro sinal é que, quando o Espírito se move no coração de uma pessoa e o acorda para a fé e o arrependimento, sua visão de Jesus muda. O crente simbólico respeita a Jesus, mas não o reverencia ou exalta. O verdadeiro cristão se deleita em Jesus, um deleite que é frequentemente evidente e contagioso. Ao servimos em missão para Deus promovendo o evangelho, nós devíamos esperar ver uma “alta estima” por Jesus Cristo, o autor de nossa redenção.
2. Você odeia o pecado
O segundo sinal de uma “verdadeira obra” é um ódio crescente pelo pecado e a derrota de práticas pecaminosas.
Quando o espírito que está trabalhando opera contra o interesse do reino de Satanás, o qual se baseia em encorajar e estabelecer o pecado e agradar-se dos desejos mundanos dos homens; este é um claro sinal de que se trata de um verdadeiro, e não de um falso espírito… Para que possamos seguramente determinar, a partir do que diz o apóstolo, que o espírito que está operando no meio de um povo… e o convence do horror do pecado, a culpa que ele traz e a tristeza à qual ele expõe: Eu digo que o espírito que opera desta maneira, só pode ser o Espírito de Deus (Works 4, 250-51)
Neste ponto, como nos outros, é tanto profundo quanto simples. Um dos claros sinais de uma obra de Deus é o ódio crescente pelo pecado. Nossos olhos são abertos de repente para ver o horror da condição de alguém. Onde antes alguém identificava fraqueza e falhas, mas sempre tinha desculpas na ponta da língua para cobrir estas deformidades pessoais, agora o Espírito mostra ao pecador o quão desprezível e mal ele é.
3. Você ama a Palavra de Deus
O terceiro sinal de uma “verdadeira obra” é o amor pela Bíblia. Edwards ligou este amor pela Escritura não simplesmente por apreciação literária de seu conteúdo, mas a uma fome e uma sede pela Palavra de Deus dadas pelo Espírito.
Este espírito que opera de tal maneira de forma a causar nos homens um respeito maior pela Sagrada Escritura, e os edifica mais em sua verdade e divindade, é certamente o Espírito de Deus… o Diabo nunca cuidaria de produzir nas pessoas um respeito pela Palavra divina, a qual Deus conferiu para ser a grande e permanente regra para a direção de sua igreja em todos os assuntos religiosos e preocupações de suas almas, em todas as épocas. (Works 4,250)
Muitas pessoas respeitam a Bíblia. Ela é conhecida como um “livro sagrado,” um texto sagrado. Mas poucas pessoas a veem como a tangível palavra de Deus que o próprio Deus “apontou e inspirou para entregar à sua igreja sua regra de fé e prática” como “a grande e permanente regra para a direção de sua igreja.” Onde o coração de uma pessoa arde de amor e santo “respeito” pelas Escrituras, o Espírito trabalhou.
4. Você ama a verdade
O quarto sinal que marcava a presença de uma “verdadeira obra” era um elevado amor pela verdade e pelas coisas de Deus.
Uma consciência e uma reação à verdade divina era um claro sinal de que o Senhor havia movido em corações humanos. Então onde as pessoas passaram a ver “que há um Deus” e que ele é “grande” e “odeia o pecado,” e que eles próprios têm “almas imortais” e “devem dar conta de si mesmos a Deus,” o Espírito estava operando a verdadeira conversão.
Edwards com razão notou que o Espírito não leva os crentes ao erro. Portanto, quando ouvimos notícias de conversão, quer seja em massa ou individual, nós precisamos ouvir repercussões da verdade no testemunho do convertido. Ele ama mais a verdade? Ele ama mais a Deus? Ele se compromete com a sã doutrina e arraiga sua fé nela? Cristãos missionais buscam odiar o pecado e levar outros a fazer o mesmo.
5. Você ama os crentes
O último sinal positivo na taxonomia de Edwards da “verdadeira obra” do Espírito, era o amor de alguém pelos companheiros cristãos.
Muitas pessoas que professam a Cristo perdem o chão neste ponto final. Eles podem até gostar dos comembros da igreja e contribuir de alguma forma para seu bem-estar, mas não foram cheios pelo Senhor com um santo amor por seus companheiros cristãos, e assim eles não os servem. A verdadeira conversão irá fazer com que casais estáveis cerquem jovens cristãos famintos de discipulado. Levará cristãos a dar generosamente a missionários e companheiros crentes (veja 2Coríntios 8). Irá fazer com que os crentes mais antigos passem tempo mentorando os mais jovens (veja Tito 2).
No final, a forma de cuidar de irmãos diz mais respeito ao nosso testemunho de conversão e nosso entendimento da missão do evangelho do que possamos inicialmente pensar. Verdadeiros cristãos distribuem amor aos seus irmãos como resposta à graça de Jesus.
(Adaptado do Capítulo Três de Jonathan Edwards em Verdadeiro Cristianismo [True Christianity], da Coleção Essencial de Edwards [The Essential Edwards Collection]).
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