O pentecostalismo sustenta que sim,
com base em três passagens bíblicas, no livro de Atos (2.4; 10.45,46; 19.6).
Henry L. Laderle, que crê que as
línguas estranhas são apenas uma das evidências do batismo com o Espírito
Santo, e não a única, assevera que essa doutrina não possui apoio explícito ou
conclusivo nas Escrituras: “Não há, em nenhum lugar do Novo Testamento,
asseveração que defina a glossolalia como a única evidência” (LADERLE, in
HORTON, 2001, p. 447).
Porém, a opinião cristã tradicional é
a de que o falar em línguas não é a evidência do batismo com o Espírito Santo.
Carl Henry articula essa posição teológica: “Esse ponto de vista não recebe
nenhum apoio de colunas históricas da fé cristã como Lutero, Calvino, Knox,
Wesley, Whitefield, Edwards, Carey, Judson e outros” (HENRY in HORTON, 2001, p.
445).
Mas vamos
analisar as passagens citadas por nossos irmãos pentecostais:
O primeiro no capítulo 2, que descreve
o ocorrido no dia de Pentecostes:
E todos foram cheios do
Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo
lhes concedia que falassem (At 2.4).
Mas o que era falado ali era a “língua
dos anjos” ou línguas estrangeiras faladas em outros países? Os versículos seguintes
esclarecem:
E, quando aquele som ocorreu,
ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na
sua própria língua (At 2.6).
A primeira vez de uma ocorrência
bíblica serve de parâmetros para caracterizarmos as demais ocorrências
semelhantes. Neste primeiro episódio, muito embora, alguns zombassem e outros
não entendessem as línguas por serem estrangeiras, isso não nos dá o direito de
interpretá-las como “línguas estranhas” ou “língua dos anjos”:
Cretenses e árabes, todos nós temos
ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus. E todos se
maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto
dizer? E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto (At 2.11-13).
Esse evento ocorreu de uma vez para
sempre, sem poder ser repetido: o
derramamento do Espírito Santo na terra. E aqui permanece entre nós até o
presente momento e subirá com a igreja no dia do arrebatamento. Com isso a
doutrina pentecostal se resume a apenas dois outros episódios:
O batismo de Cornélio e seus
familiares (At 10.45,46) e dos discípulos efésios (At 19.6) são os outros dois
casos citado por pentecostais para defesa da sua tese. Em ambos os casos os
envolvidos realmente falaram em outras línguas, mas percebam que as línguas
foram faladas no momento da conversão,
e não em momentos futuros, após um ano, após dez anos. Vejamos:
E,
dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que
ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham
vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse
também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus. Respondeu,
então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam
batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que
fossem batizados em nome do SENHOR. Então rogaram-lhe que ficasse com eles por
alguns dias (At 10.44-48).
E os
que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as
mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam (At 19.5,6).
Se é para fazer doutrina dessas duas
passagens, então o falar em línguas tem
de ocorrer simultaneamente com conversão com todos os cristãos.
O teólogo Anthony Andrew Hoekema
observa: “Há nove ocasiões registradas em Atos dos Apóstolos onde pessoas
recebem a plenitude do Espírito Santo ou são cheias do Espírito Santo e não se
menciona o falar em outras línguas” (HOEKEMA, in HORTON, 2001, p. 446).
A própria passagem que relata o batismo do apóstolo Paulo, que
poderia ter sido emblemática por ser o encarregado de doutrinar a igreja, não
descreve línguas estranhas:
E
Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o
SENHOR Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que
tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos
olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi
batizado (At 2.17,18).
Repito: o apóstolo Paulo, incumbido
por Jesus para ser o doutrinador maior da igreja, não houve registro de que tenha
falado línguas estranhas logo após ser cheio do Espírito Santo.
O batismo com o Espírito Santo dos
cristãos samaritanos também não descreve o “falar em línguas”:
Os
quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (Porque
sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do
Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo (At
8.15-17).
Alguns pressupõem que, pelo fato de Simão
ver que os discípulos recebiam o Espírito Santo pela imposição de mãos dos
apóstolos Pedro e João, chegando ao ponto de oferecer-lhes dinheiro para também
recebê-Lo, prova que eles falaram em línguas estranhas. Mas é um artifício
forçado.
Portanto, a nossa posição é a de que o
batismo com o Espírito Santo ocorre no momento em que há uma sincera consagração
ao nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e não há a evidência inicial de falar
em línguas estranhas como prova visível do acontecido. As evidências
mostrar-se-ão no decorrer da sua vida cristã, pelos frutos demonstrados, e não
por um momento isolado em determinado momento:
Portanto,
pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7.20).
Joel Alexandre
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