segunda-feira, 19 de março de 2012

As línguas estranhas são evidências de batismo com o Espírito Santo?, por Joel Alexandre


O pentecostalismo sustenta que sim, com base em três passagens bíblicas, no livro de Atos (2.4; 10.45,46; 19.6).
Henry L. Laderle, que crê que as línguas estranhas são apenas uma das evidências do batismo com o Espírito Santo, e não a única, assevera que essa doutrina não possui apoio explícito ou conclusivo nas Escrituras: “Não há, em nenhum lugar do Novo Testamento, asseveração que defina a glossolalia como a única evidência” (LADERLE, in HORTON, 2001, p. 447).
Porém, a opinião cristã tradicional é a de que o falar em línguas não é a evidência do batismo com o Espírito Santo. Carl Henry articula essa posição teológica: “Esse ponto de vista não recebe nenhum apoio de colunas históricas da fé cristã como Lutero, Calvino, Knox, Wesley, Whitefield, Edwards, Carey, Judson e outros” (HENRY in HORTON, 2001, p. 445).
Mas vamos analisar as passagens citadas por nossos irmãos pentecostais:
O primeiro no capítulo 2, que descreve o ocorrido no dia de Pentecostes:
E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem (At 2.4).
Mas o que era falado ali era a “língua dos anjos” ou línguas estrangeiras faladas em outros países? Os versículos seguintes esclarecem:
E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua (At 2.6).
A primeira vez de uma ocorrência bíblica serve de parâmetros para caracterizarmos as demais ocorrências semelhantes. Neste primeiro episódio, muito embora, alguns zombassem e outros não entendessem as línguas por serem estrangeiras, isso não nos dá o direito de interpretá-las como “línguas estranhas” ou “língua dos anjos”:
Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer? E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto (At 2.11-13).
Esse evento ocorreu de uma vez para sempre, sem poder ser repetido: o derramamento do Espírito Santo na terra. E aqui permanece entre nós até o presente momento e subirá com a igreja no dia do arrebatamento. Com isso a doutrina pentecostal se resume a apenas dois outros episódios:
O batismo de Cornélio e seus familiares (At 10.45,46) e dos discípulos efésios (At 19.6) são os outros dois casos citado por pentecostais para defesa da sua tese. Em ambos os casos os envolvidos realmente falaram em outras línguas, mas percebam que as línguas foram faladas no momento da conversão, e não em momentos futuros, após um ano, após dez anos. Vejamos:
E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus. Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do SENHOR. Então rogaram-lhe que ficasse com eles por alguns dias (At 10.44-48).

E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam (At 19.5,6).
Se é para fazer doutrina dessas duas passagens, então o falar em línguas tem de ocorrer simultaneamente com conversão com todos os cristãos.

O teólogo Anthony Andrew Hoekema observa: “Há nove ocasiões registradas em Atos dos Apóstolos onde pessoas recebem a plenitude do Espírito Santo ou são cheias do Espírito Santo e não se menciona o falar em outras línguas” (HOEKEMA, in HORTON, 2001, p. 446).
A própria passagem que relata o batismo do apóstolo Paulo, que poderia ter sido emblemática por ser o encarregado de doutrinar a igreja, não descreve línguas estranhas:
E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o SENHOR Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado (At 2.17,18).
Repito: o apóstolo Paulo, incumbido por Jesus para ser o doutrinador maior da igreja, não houve registro de que tenha falado línguas estranhas logo após ser cheio do Espírito Santo.
O batismo com o Espírito Santo dos cristãos samaritanos também não descreve o “falar em línguas”:
Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo (At 8.15-17).
Alguns pressupõem que, pelo fato de Simão ver que os discípulos recebiam o Espírito Santo pela imposição de mãos dos apóstolos Pedro e João, chegando ao ponto de oferecer-lhes dinheiro para também recebê-Lo, prova que eles falaram em línguas estranhas. Mas é um artifício forçado.
Portanto, a nossa posição é a de que o batismo com o Espírito Santo ocorre no momento em que há uma sincera consagração ao nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e não há a evidência inicial de falar em línguas estranhas como prova visível do acontecido. As evidências mostrar-se-ão no decorrer da sua vida cristã, pelos frutos demonstrados, e não por um momento isolado em determinado momento:
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7.20).

Joel Alexandre

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